12 de outubro de 2015

A fase dos lenços...

A pior fase foi a de, além de ter que aceitar o inaceitável, ainda ter que lidar com a perda do meu cabelo... Não saber nem como sair de casa, nem como me comportar sem eles... Ganhei inúmeros lenços, coisa que me emocionou e me fez um bem danado... Comprei outros tantos... Mas foi em vão, pois não me adaptei com eles... Achava-os horríveis amarrados... Usei-os como as muçulmanas os usam. Mas por pouquíssimo tempo. Por fim, resolvi ser eu mesma. Nada de criar uma 'Sandra' que não existia... Aceitei e encarei minha nova condição, por mais dolorida que me fosse. Tentei agir como se não tivesse nada errado comigo. O apoio e o carinho da minha família e amigos foi fundamental para superar essa fase do tratamento.

Meu cabelinho a lá Joãozinho!!!


Nunca imaginei que um dia teria o cabelo estilo 'Joãozinho'.
Mas até que estou curtindo...



Acordar e olhar no espelho toda manhã, no último ano, tem sido inusitado... Muitas vezes não me reconheci, muitas vezes me entristeci com o que vi... Algumas, não tive nem vontade de olhar... Não queria ver nada!!! Queria fugir, sumir, 'sorveter', enfim... Qualquer coisa que me tirasse desta situação... Qualquer lugar onde o câncer e tudo o que veio junto com ele não existisse... Mas, mesmo em meio aos dias em que ficava no meu casulo, consegui enxergar que de alguma forma aprendia... Aprendi a não dar importância ao que não tem importância... Aprendi que por mais que a minha vida fosse uma louca e desenfreada corrida, eu precisava parar... Infelizmente, de um jeito muito dolorido, tive que parar e concentrar-me só em mim... Nos meus medos, nos meus monstros, e tentar vencê-los. E percebi, que mesmo enfrentando tudo isso, conseguia achar motivos para sorrir... Conheci pessoas maravilhosas, fiz novas amizades, algumas das quais vou levar para a vida toda... Deletei algumas pessoas do meu convívio... Descobri que outras eram mais amigas do que eu imaginava... Resgatei uma amizade de infância, que havia acabado por motivos bobos. Enfim, como digo desde o início de tudo, tenho aprendido muito, como pessoa, como ser humano... Não sei ainda o porquê, nem porque tinha que aprender desse jeito... Mas se tinha que ser, aceitei e ponto. Aceitei sem questionar, muito embora algumas vezes tenha me revoltado, me rebelado... Afinal, sou humana... E como tal, tentei agir da melhor forma possível, sem deixar de ser eu mesma... Sem deixar de ser Sandra.
Acho que consegui... Rsrs

Estou em tratamento de câncer.

Não sei se já entrei em detalhes sobre mim... 
Mas aí vai um pouquinho de mim:                                  
Tenho 45 anos, sou professora, mãe de 3 lindas moças.
Descobri um carocinho no meu seio direito em 2010. Fui a três médicos diferentes. O primeiro, me garantiu ser um cisto, provavelmente de leite ‘empedrado’ e disse que eu não tinha com o que me preocupar. Foi tão convincente e firme que achei bobeira fazer os exames que mandou fazer. Imagina, um médico experiente só podia ter razão!!! Só que o tal cisto continuou a crescer. Então procurei outra médica que me disse que eu estava procurando doença. O nódulo cresceu a ponto de começar a deformar meu seio. Procurei uma terceira médica que, depois de me examinar, disse ser coisa da minha cabeça. A esta altura eu já estava com a mamografia agendada. Fiz e em 31 de outubro de 2013 fui buscar o resultado. Abri o exame lá em Mogi mesmo. “Achados mamográficos altamente suspeitos!!!” Nem sei como cheguei em Suzano. Entrei no posto de saúde em meio às lágrimas e me encaminharam para a enfermeira chefe, que me acalmou e pediu que eu voltasse na semana seguinte para passar no médico, pois ela ia me encaixar. Voltei e era o último dia do médico no posto e ele não podia me atender, mas olhou os exames e com muita responsabilidade me encaminhou para ser atendida no Hospital Pérola Byington. Em 10 de novembro já passei pela equipe de triagem do Care onde fui encaminhada para ultrassonografia, biópsia, avaliação com o anestesista e exames pré operatórios; pois o médico que direcionou a biópsia disse que independente do resultado eu seria submetida a cirurgia para retirada do nódulo, por conta de haver histórico de câncer na família. Em 6 de fevereiro fui submetida a uma quadrantectomia com retirada do bico, mamilo e esvaziamento da axila direita. Em junho, depois de uma bateria de exames, fui encaminhada para a quimioterapia (4 sessões vermelhas e 4 brancas) e para radioterapia (25 sessões). A última sessão de quimio branca, que aconteceu dia 8 de Dezembro. Bem… perdi meus cabelos, que eram imensos, lindos e brilhantes na primeira sessão de quimio vermelha, e depois na última quimio branca. Tive muitos dos efeitos colaterais. Fiz a radioterapia de abril a junho de 2014. Tive queimaduras de 2º e 3º graus... Mas sobrevivi, graças a Deus!!! Estou aqui, enfrentando a hormonioterapia, uma parte do tratamento bem difícil também. Tomo Anastrozol. E vou tomar um comprimido dele por exatos 60 meses. Só para variar, tenho todos os sintomas possíveis e imagináveis. Depois de tudo, ainda tenho que passar por cirurgias reparadoras, mas não penso muito no que esta por vir. Aliás, não pensei em nenhum momento do tratamento… Só me deixei levar… sem nada questionar… foi a maneira que encontrei para lidar com esta situação, não pensar demais.
Sou um ser humano diferente hoje… Vi e vejo muita coisa… algumas piores que a minha situação. Deixei de dar importância para o que falam, para o que pensam… Passei a viver de verdade!!!!

8 de abril de 2015

Renascida das cinzas, como uma Fênix!!!



E, embora adore esse meu cantinho, estive ausente dele nos últimos meses... A descoberta do câncer em outubro de 2013 virou minha vida do avesso!!! Do nada surgiram dezenas de exames, consultas, procedimentos, cirurgia, quimioterapias!!! No meio de tudo isso a perda dos meus lindos cabelos  por duas vezes... A perda da auto estima... Da vontade de ver a luz do sol, de falar com quem quer que fosse, de receber visitas... Enfim... Fiquei mais de um ano enclausurada no meu casulo...  E agora, me preparo para a radioterapia!!! E depois para as cirurgias de reconstrução da mama direita. Bem... Posso dizer que não foi fácil!!! Foram dias terríveis, em que não me reconheci nem em mim, nem no espelho!!! Chorei muito... Não tinha como ser diferente... Cada ida ao hospital era um martírio, apesar de ser também um grande aprendizado como ser humano... Não sei se aprendi algo com isso tudo, mas sei que brequei!!! Minha vida, aquela tão cheia de afazeres, de correria... Sem tempo para nada, absolutamente nada, nem para mim mesma, já não existe mais. Agora, tenho todo o tempo do mundo; pois o universo deu um jeito de me parar um pouco, já que eu mesma não fiz isso por mim. O bom disso tudo é que tive tempo, todo tempo do mundo para pensar, refletir e até decidir se quero continuar dando à minha vida o rumo que ela vinha tomando... Agora, quando tudo isso acabar, estarei pronta para novas decisões, novas experiências. Meu Deus, esteja comigo... Seja qual for o caminho a ser seguido.
Primeira foto careca.