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14 de abril de 2019

Vivendo com Câncer – Diário de Bordo

Descobri um ‘carocinho’ na minha mama direita em 2009.
Fui ao médico no Iamspe e ele me disse que não tinha textura de tumor. Que era leite empedrado. Pediu exames por 'desencargo de consciência', segundo ele.
Estava difícil de agendar os exames. Não fiz.
Mas adiante, como o ‘carocinho’ cresceu, procurei uma ginecologista no posto de saúde, em Suzano, onde moro. Ela disse que era coisa da minha cabeça. De novo não foi feito nada para investigar.
Em 2012 voltei em outra ginecologista, no mesmo posto de saúde. Ela disse que eu estava procurando doença. Larguei mão.
Devia ser mesmo coisa da minha cabeça. Três médicos já haviam insinuado isto.
Relaxa, Sandra. Deixa de ser maluca, não é???
No final de 2013, meu médico pediu que eu fizesse papanicolau, e passasse na ginecologista antes de voltar nele.
Nesta época eu já havia percebido que o nódulo estava grande a ponto de deformar minha mama.
Fui fazer o papanicolau e a enfermeira que colheu o material, me perguntou a respeito do auto exame. Contei-lhe os episódios e ela, boquiaberta, me disse para voltar no dia seguinte. Voltei e ela me deu a guia para fazer a mamografia. Fiz. E, enquanto estava sendo submetida ao exame, a técnica me perguntou o porquê do exame. Contei e ela me examinou e sentiu o nódulo. E já adiantou uma imagem de compressão exatamente no lugar do nódulo.
Em 31 de Outubro de 2013 busquei, no Hospital Luzia de Pinho Melo, o resultado: Achados mamográficos altamente suspeitos.
Fui direto para o posto de saúde. Cheguei lá chorando. A enfermeira chefe foi chamada e me levou para conversarmos em sua sala. Perguntou o motivo do choro. Falei do histórico familiar e que, para mim, aquele resultado era um diagnóstico.
Ela marcou ginecologista para mim para a quarta feira seguinte.
Cheguei ao posto e o médico havia sido transferido. Estava só arrumando seus pertences. Mesmo assim, a enfermeira levou meus exames para ele olhar. E ele preencheu o encaminhamento para o Mastologista.
A guia ficou no posto para que a consulta fosse agendada.
Assim que cheguei em casa, o telefone já tocava. Atendi e era do posto, avisando que na segunda feira seguinte eu tinha consulta no CARE do Hospital Pérola Byington.
Fui. Chegando lá, fui recebida por uma equipe de mastologia. O médico quis brigar comigo. Expliquei que não tive culpa. Que não fui ouvida.
Fui encaminhada para biópsia guiada por ultrassom no mesmo dia. Durante o exame o médico, depois de ver a cor dos fragmentos coletados, preencheu as guias de exames pré operatórios. Questionei e ele disse que, independente do resultado da biópsia, eu seria submetida a uma cirurgia.
Em fevereiro de 2014, fiz uma quadrantectomia para retirar o nódulo, que estava encapsulado.
Quando voltei da cirurgia, criei minha página pessoal para falar do dia a dia do diagnóstico e a chamei de “Vivendo com Câncer – Diário de Bordo”. Ali eu colocava tudo o que acontecia, resultados de exame, efeitos colaterais da Quimioterapia, como eu reagia a tudo isso. A princípio era só um diário mesmo. Depois comecei a ler, pesquisar e a postar informações sobre o câncer de mama.
Fui encaminhada para a Oncologia e lá prescreveram 8 sessões de quimioterapias.
No final de 2014, troquei de Oncologista, por não me sentir segura com o anterior. Graças a Deus, encontrei meu anjo da guarda. A Drª Samira Belloni. Costumo dizer que é a melhor parceria da minha vida!!!
Então, fui encaminhada para a radioterapia. 28 sessões, que me renderam queimaduras de 3 graus.
Uffa... Tinha acabado. Era o que eu achava...
Iniciei o uso do Anastrozol a fim de proteger-me de outros focos de câncer.
Como o diagnóstico familiar com câncer é muito expressivo, minha médica passou a fazer rastreios periódicos.
Num desses rastreios, descobrimos a metástase óssea na coluna dorsal, em fevereiro de 2016. Começamos o tratamento com Zometa para calcificar as lesões no mesmo dia. Aplicações mensais por quinze meses e agora trimestrais. Mudamos a medicação de bloqueio para Aromasin, que infelizmente não bloqueou devidamente o câncer.
Em 2016, entrei num grupo de WhatsApp para mulheres com câncer. Pensei várias vezes em sair de lá... Mas um belo dia, quando dei um pouquinho de atenção às conversas, acabei fazendo Amigas!!!! Sou muito Krika!!! E, em pouco tempo, a administradora desistiu do grupo, pois eu alfinetada as informações erradas que ela dava. Ela saiu mas deixou três de nós como administradoras. Eu era uma delas. Deixei o grupo com a minha cara... Rsrsrsrsrsrs Coloquei minha Oncologista, amigas da área da saúde, advogadas, dentistas, psicólogas e dei o nome de Amigas do Destino. Enfim... Temos um grupo para discutirmos tudo o que envolva o câncer, seu diagnóstico e tratamento. Bem como lançamento de medicamentos novos e legislação que nos favoreça.
Em 2017, enquanto eu lançava meu projeto Apaixone-Se por Si, para resgatar a auto estima de pacientes oncológicas, estava também fazendo os exames de rastreio. Descobrimos uma reincidência na mesma mama. Fui submetida em dezembro do mesmo ano a uma mastectomia radical com esvaziamento axilar.
Fiz novamente as quimioterapias. Desta vez nove sessões. Há exatamente um mês, iniciei a terapia de bloqueio com o Tamoxifeno.
Nem preciso dizer que minha vida virou do avesso, não é???
Mas, apesar de tudo, sou um ser humano muito melhor hoje.
Dou importância ao instante. Ao agora.
Não choro pelo que menos importa.
Os cabelos já se foram três vezes.
Mas já estão de volta e eu estou de pé. Embora não retorne às minhas atividades, uma vez que estou aposentada há seis meses por conta do diagnóstico, tenho ocupado meu tempo a passar informações a respeito de câncer, rastreio e detecção precoce em minhas redes sociais.
Hoje, depois de ter passado por tudo isso, perdido meu amado pai e muitas amigas queridas para o monstro câncer, tenho procurado instruir-me e capacitar-me cada vez mais, participando de congressos, fóruns de discussão, dentre outros canais de informações.
Pois percebo que, apesar de o assunto estar direto em pauta nas mídias e nas redes sociais, ainda é alarmante o número de pessoas que chegam aos serviços de saúde com o diagnóstico avançado e com muito pouco a ser feito. Por pura falta de informação.
Tenho ido a escolas, universidades, hospitais, empresas e onde mais me chamam para falar de câncer e principalmente contar minha história. Para que as mulheres entendam que se perceberem alguma anomalia precisam procurar ajuda médica. E fazer-se ser ouvida.
Continuo engajada em promover eventos de conscientização, rastreio e detecção precoce. Afinal, sou uma educadora e não posso levar essa experiência toda embora comigo.
Meu objetivo de vida atualmente é mostrar para as mulheres diagnosticadas que são lindas. E são lindas mesmo carecas, gordinhas, sem cílios, sem sobrancelhas. E que a única preocupação que devem ter é vencer o dia de hoje.


Esta é a minha história e meu nome é Sandra Gonçalves. Sou pianista, mãe, professora aposentada, paciente oncológica e palestrante.




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