24 de dezembro de 2010

Amiga eterna...


A solidão... Ela não tinha mais do que reclamar; possuía algo que era só seu, que ninguém iria jamais ter igual um dia... Tinha a solidão.
E não era uma posse qualquer! Era especial por ser somente sua e ser tão ampla, tão interior, tão autoritária. Nunca a deixava sozinha; não! Era extremamente companheira. Bastava estender o braço, e ela ali estaria. Para ser honesta, às vezes, a companheira afastava-se um pouco; no entanto, era fácil reencontrá-la perto da cama, quando ficava olhando a montanha pela janela.
Ela adorava esconder-se no quarto; assim, a menina tinha de ir até lá para ter sua companhia. Ia até ela, a fim de falar ou transmitir pensamentos à companheira. Ou mesmo para escrever para ela. Talvez porque sentisse sua falta... Talvez porque já estivesse acostumada à sua eterna presença...
O combinado, então, era este: ir ao quarto para procurá-la. Mas era importante ir sozinha. Se ligasse o rádio, em alto volume, e deixasse que o som penetrasse, aí já era tarde! A solidão amiga era, além de tudo, tímida! Nem aparecia; era inútil esperar. Não vinha, mesmo que a porta estivesse aberta. Não entrava mesmo e pronto!
Quase todas as tardes ou durante as noites, a menina esperava-a. Ela facilmente se aproximava; ouvia a amiga e fazia-lhe companhia. A menina, entretanto, ficava dividida, pois achava que deveria haver outro mundo... Talvez existissem outros amigos lá fora...
A solidão não gostou de saber desses pensamentos da menina. Queria que só a conhecesse; era realmente muito egoísta e egocêntrica a moça! Começou a se afastar, e a menina, desconhecedora de outro mundo, sentiu-se mais só. Por dias, a companheira fez greve e não apareceu no pequeno quarto. A menina, esperançosa, aguardou-a por muito tempo. Nada substituía a amiga. Como sentia sua falta!
Então, teve uma ideia e resolveu pegar a amiga de jeito. Esquematizou um plano. Imaginou-se outra e fantasiou acontecimentos bem reais. Levou o aparelho de som e a esperança para dentro do quarto. O sonho foi correndo atrás dela. A menina trancou a porta e escutou músicas por muitas horas.
Aí, de repente, a solidão – cabisbaixa – apareceu, mexendo na maçaneta. A menina já imaginava quem estava do outro lado da porta... E, ao abrir e rever a amiga antiga, ela sorriu. A solidão entrou e, num gesto rápido, a garota apagou a porta do cômodo. Com agilidade, apertava e esfregava a borracha. Sumiu todinha!
A amiga não entendeu direito aquele gesto, pois enxergava a janela... De que adiantava prendê-la por uma e deixar a outra aberta? Mas a menina sorria; sabia que não poderia apagar a janela. Esta não!
Aumentou o volume da música, continuou com sua imaginação real e levou suave-mente a amiga à janela. Mostrou-lhe a linda paisagem que as duas podiam contemplar dali. A janela ficaria ali, sempre aberta, para que, um dia, as duas pudessem alçar voo, como as gaivotas. Juntas.
Voariam juntas, com a mala recheada de amor, de esperança, de sonhos e de realizações. Iriam, pela primeira vez, voar realmente.
Desconhecido

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