20 de dezembro de 2010

Metade


Que a força do medo que eu tenho
Não me impeça de ver o que anseio
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.
Que a música que eu ouço ao longe
Seja linda, ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo
Seja para sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade

Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece
E nem repetidas com fervor, apenas respeitadas
Como a única coisa
Que resta a um homem indundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo
Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma
E na paz que eu mereço
E que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que penso
Mas a outra metade é um vulcão
Que o medo da solidão se afaste
E que o convivio comigo mesmo
Se torne ao menos suportável
Que o espelho reflita em meu rosto
Um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Porque metade de mim é a lembrança do que fui
E a outra metade, eu não sei

Que não seja preciso
Mais do que uma simples alegria
Para me fazer aquietar o espírito
E o que o teu silêncio
Me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade
Pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é a platéia
E a outra metade é canção
E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade...
T A M B É M

By Oswaldo Montenegro

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